A transformação digital já é uma realidade em diferentes mercados e, dentro desse cenário, a acessibilidade é uma pauta cada vez mais relevante para as empresas que se preocupam verdadeiramente com a experiência do usuário.
Embora o investimento pareça elevado ou as pessoas com deficiência não sejam seu público alvo, devemos lembrar que, quando a acessibilidade vai além de limitações permanentes, impostas por deficiência física ou intelectual.
Surpreso? Pois pense numa mãe, com seu bebezinho no colo, tentando niná-lo. Esta mãe representa uma limitação física situacional, ou seja, naquele momento, ela se torna incapaz de utilizar ao menos um de seus braços e, provavelmente, também com a audição comprometida, uma vez que precisa do mínimo barulho possível no para fazer a criança pegar no sono. Um motorista de aplicativo, igualmente, tem a visão comprometida pela situação, visto que deve atentar-se ao trânsito e não ao seu aplicativo de corridas.
Há, ainda, a chamada limitação temporária. Aquela que acomete a visão de um idoso, recém operado de uma catarata, e que, por um determinado período de tempo, não poderá enxergar com um de seus olhos. Da mesma forma, um jovem atleta, também pode viver uma limitação, quando acidentado e com membros engessados.
3 ideias para uma mentalidade inclusiva e acessível
Ainda que a questão da acessibilidade envolva inúmeros critérios para que uma plataforma digital seja considerada um triplo A na WCAG (Web Content Accessibility Guidelines), principal referência mundial sobre o tema, separei aqui 3 ideias simples para virar a chavinha para uma mentalidade inclusiva e acessível.
1. Prefira a linguagem neutra
Hoje em dia, vemos muitas empresas que, para se posicionarem de maneira inclusiva para o público feminino e LGBTQIA+, optam por escrever palavras do gênero masculino substituindo o artigo “o” pelas letras “x”, “e” ou mesmo por um @.
A iniciativa, embora interessante sob um ponto de vista, prejudica a performance dos leitores de tela utilizados por pessoas com limitações visual. Além disso, pessoas com dificuldades cognitivas ou mesmo aquelas não familiarizadas com essas iniciativas que nasceram especialmente no meio digital também podem ter dificuldades de compreensão.
A melhor forma de se comunicar de maneira efetivamente inclusiva é utilizando nossa boa e velha língua portuguesa para selecionar expressões unissex que se adequem à mensagem que você quer passar.
Você pode substituir “todos os professores” por “todo o corpo docente”, por exemplo. Ao invés de “os diretores”, prefira “a diretoria”. Troque “os médicos” por “a junta médica”. “Ficou interessado?” pode ser “Teve interesse?”. “Procuram-se publicitários” pode se transformar em “procuram-se pessoas de publicidade”… e por aí vai!
2. Aposte nas legendas e descrições de imagem
Essa boa prática vale para sites, plataformas e aplicativos de negócios e também é uma bela dica para a sua equipe de comunicação e marketing. Utilizar o “Para todos verem” para descrever fotos de postagem e legendar os stories falados vai ajudar muito a sua audiência, especialmente àquelas pessoas que acessam as redes com o volume mínimo ou mudo.
Utilizar o alt-text no seu site institucional, além de ser inclusivo, visto que permite que as pessoas que utilizem os leitores de tela possam ter a informação sobre qual imagem está sendo retratada naquele contexto, também pode colaborar com a sua estratégia de SEO (Search Engine Optimization), isso é, a otimização para os mecanismos de buscas.
3. Atenção para o contraste de cores e tamanhos de fontes
Você pode sim seguir a paleta de cores da sua marca. Você também pode ousar utilizando cores neon ou manter a delicadeza com tons pastéis, no entanto, é sempre necessária a máxima atenção com o contraste para garantir uma boa visualização dos textos e elementos gráficos com cores sobrepostas.
Uma dica, nesse sentido, é utilizar a ferramenta gratuita Adobe Color que, além de ajudar na criação e extração de paletas de cores e gradientes, conta agora com função de acessibilidade que permite a testagem do contrate de texto versus cor de fundo e indica se as cores escolhidas estão aprovadas ou reprovadas para componentes gráficos, textos normais (17pt ou menos) e textos grandes (18pt ou mais).
É claro que a acessibilidade vai muito além dos pontos citados neste texto e a verdade é que muitos outros critérios simples da WCAG podem ser adotados de imediato por aqueles que buscam ser mais inclusivos. O importante, porém, é dar o primeiro passo e acreditar que esta pauta não se limita às pessoas com deficiência. Apostar em acessibilidade traz benefícios para todos.
Karla Cristina Ikeda da Silva, Designer na BRQ