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Uma mulher no ramo da ciência e da tecnologia provavelmente terá que se acostumar com maioria dos seus colegas sendo homens. Mas, isso não significa que há falta de qualidade feminina para essas áreas.

Ada Lovelace, por exemplo, foi a primeira pessoa a desenvolver um algoritmo computacional da história, em 1843. Grace Hopper criou a linguagem COBOL, assim disseminando a ideia de linguagem de programação para processamento de bancos de dados. Hedy Lamarr, atriz, criou um sinal com variador de frequência durante a Segunda Guerra mundial, princípio utilizado hoje para a criação do Bluetooth e WiFi. Carol Shaw criou o primeiro sistema de geração procedural de conteúdo, que não permite que uma fase de jogo seja igual a outra.

Como uma breve ilustração da tentativa de apagar as mulheres da história da tecnologia, temos as garotas do ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) – o primeiro computador eletrônico da história. Elas eram seis mulheres escolhidas dentre um grupo de 80 para codificar eletronicamente trajetórias de mísseis que antes eram calculados à mão. No entanto, foram esquecidas: até 1990 eram consideradas modelos escolhidas para embelezar as fotografias. Na verdade, essas mulheres foram responsáveis por programar em um tempo onde não existiam linguagens de programação, software ou sistema operacional; havia apenas o esqueleto do computador. O ENIAC foi projetado para funcionar durante a Segunda Guerra Mundial, porém não ficou pronto a tempo. Mesmo assim, foi a sensação da mídia da época, por diminuir de 30 horas para segundos o tempo de execução de alguns cálculos.

Falando dos dias de hoje, segundo a UNICAMP, as mulheres ainda são minoria entre os matriculados na universidade (40%) e entre os alunos de ciências exatas (30,31%). Em contrapartida, são as que, ao longo do curso, têm o melhor rendimento acadêmico, com notas 9,5% superiores a de seus colegas considerando a nota de coeficiente de rendimento.

O que entendemos dos dados acima citados é que não há falta de capacitação feminina para a mulher no ramo da ciência e da tecnologia, muito pelo contrário.

O que pode ser considerado, então, um fator decisivo para a construção do cenário atual (de minoria feminina no meio), é a dificuldade de ser mulher na sociedade. Ultrapassar determinadas barreiras no ciclo de desenvolvimento acadêmico, social e ascensão de carreira pode ser muito difícil, e isso nos traz a necessidade de discussões de gênero.

Precisamos contestar a maneira de tratar a mulher como um ser reprodutivo, de trabalho doméstico e responsável por assegurar o bom desempenho da esfera familiar como se sua existência se resumisse a isso. Chegamos ao cúmulo de discutirmos historicamente o fato da saída da mulher da esfera doméstica ser passageira e problemática para a espécie, o que pode ser claramente refutado ao vermos que hoje é irreversível a participação de mulheres na produção social.

Não podemos dizer que dá para mudar todo um contexto histórico do dia para a noite, mas alguns fatores podem ajudar no reconhecimento das mulheres e aumento das mesmas nos setores tecnológicos. O surgimento de empregadores jovens com uma mentalidade moderna, que temos notado ultimamente, pode ser um deles, pois trazem como meta investir nas pessoas independentemente de gênero, agregando uma cultura de igualdade que é benéfica para todos. Assim, daremos passos para desmistificar a premissa de que mulheres não se adequam ao meio majoritariamente masculino e são menos capazes e produtivas. Essa mudança de paradigma, sem sombra de dúvidas, irá agregar mais valor à sociedade.

Joice Barros Lencione – Engenheira de Dados na BRQ

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