Há quase uma década eu escrevia sobre desafios de empresas mineradoras e petroleiras ao rever o ambiente e os processos operacionais para atender a exigências de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (HSE). Naquela época, eu sugeri ao executivo com responsabilidade nisso para aproveitar a oportunidade e aprofundar a investigação do impacto na produtividade que cada iniciativa teria na empresa.
Hoje, faço mais uma provocação: por que não incluir HSE em iniciativas de Transformação Digital da sua empresa? Um tremendo eliminador de burocracia em todas as áreas burocráticas e também redutor de custo de atendimento de clientes por todos os canais digitais, a Transformação Digital poderia justificar mais investimentos ainda. Transformação Digital como mais uma maneira eficaz e à prova de erros quando atendendo as exigências corporativas e da legislação de segurança no trabalho.
Aqui esclareço ao leitor não familiarizado com a área em questão, Saúde, Segurança e Meio Ambiente, que também é chamada de EHS, HSE, HSSE, pelo fato das letras representarem os termos na língua inglesa para os subgrupos que enumero:
- Health and Safety: toda organização deve proteger empregados, terceirizados, visitantes, usuários, de lesões ou perigos à saúde causados por exposição aos locais de trabalho ou produtos, seja o risco uma lesão menor ou muitas fatalidades.
- Environment: a empresa deve zelar pelo impacto temporário ou definitivo no Meio Ambiente. Leis e regulamentos, portarias, sindicatos, ONG’s e fiscalizações estão fechando o cerco sobre as empresas para fiscalizar cada grama de substâncias lançadas na terra, na água e no ar.
- Security: embora a tradução das palavras safety e security sejam “segurança”, seus significados são diferentes. Security se refere a fraudes, roubos, sabotagem, entradas não-autorizadas, assaltos, destruição de propriedade, espionagem industrial.
Era, há doze anos, e ainda é hoje, difícil dimensionar a grandeza adequada de investimentos em Saúde, Segurança e Meio Ambiente em determinado contexto de empresa, mercado, ritmo de produção. Para o responsável pela Operação, há dezenas de indicadores relacionados à Saúde, Segurança e Meio Ambiente. A excelência operacional e HSE andam de mãos dadas e os investimentos em Segurança podem e deveriam ser avaliados como se fossem investimentos para ganhos de produtividade, pois é possível relacionar itens de HSE com estes.
Todas as empresas petrolíferas e petroquímicas sabem que excelência operacional condiz com o compromisso em proteger pessoas e o meio ambiente, mas também faz muito sentido para o negócio. Operações seguras, eficientes e amigáveis para o meio ambiente são a chave do sucesso financeiro, isso tornou-se mantra.
Com poucas diferenças, a Indústria da Mineração tem seus preços sujeitos às pressões de mercados de commodities, e seus gestores geralmente têm alta aversão ao risco, às mudanças, e muito foco em controle de custos operacionais. Sua margem de lucro é altamente dependente da eficiência em se realizar certas atividades com muita eficiência e a menor variabilidade possível. Toda interrupção pode representar um custo adicional incorrido e uma quebra da margem. Portanto, inúmeros eventos vêm sendo voltados à redução de custos e excelência operacional. Um dos motores da indústria sempre na moda é esse: gaste menos e produza mais. A tal da produtividade. Transformação Digital é um instrumento para isso, quando sensores e redes de automação da Indústria 4.0 vieram para trazer novas capacidades de controle e ação. Do caminhão off-road para a válvula do resfriador de condensação da refinaria de gasolina.
Desta forma, ainda acredito que o aspecto multidimensional entra em cena, expandindo a questão de simplesmente HSE para englobar excelência operacional. Tem o físico, desde o equipamento de proteção da pessoa, o processo, a governança e gestão, e cada vez mais o digital. O digital vai coletar e automatizar os indicadores de performance nas áreas de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, que reduzem os custos e aumentam a produtividade da empresa.
Ganhos de produtividade ocorrem por melhorias em HSE por dezenas de motivos, temos menos tempo perdido devido a incidentes de segurança, número de não-conformidades com padrões legais ou corporativos em inspeções de segurança, retrabalho, reparos em equipamentos avariados. E o ganho de imagem, de responsabilidade social da empresa?
O CEO pensa no que podemos mudar, para construir um lugar mais seguro para nossos funcionários, contratados e pessoas ao redor da empresa. O CFO vive pensando também em iniciativas que ajudarão na melhoria contínua das operações e consequentemente da margem de lucro da empresa. Adicionem então as dimensões de HSE. Por menor que sejam os recursos disponíveis para investimentos em HSE no ano corrente, a chave é conseguir mostrar o ganho de produtividade e redução dos custos que a empresa consegue fazer com esses recursos. E então a sugestão fica aqui renovada – olhe para HSE como uma disciplina multidimensional, e encontrará contribuições para o orçamento, vindos das dimensões operacionais e financeiras, e lidere-a com Transformação Digital.
Marcos Rittner, Diretor de Negócios na BRQ
Sempre um prazer escrever e compartilhar minhas experiencias. Quem sabe ela traz um pouco de luz ao tema.